Avestruz: só tenho rascunhos explora três caminhos que se encontram – interferências urbanas, livro-objeto e vídeo – e duas maneiras de percorrê-los. Num primeiro momento, a estruturação, criação e experimentação na cidade de Belo Horizonte, sempre com disposição para o acaso e para as interferências urbanas, incluindo encontro com pessoas;
Em um segundo momento, a publicação, que guarda vestígios e memórias dessas experiências, tais como fotos, textos, bordados, colagens e vídeos, e transforma as performances em outras coisas, além de trazer para a composição amigos artistas que tecem junto a mim. Trabalho o figurino como objeto, a rua como cenário, o clown, a escultura. É uma pluralidade de ações com pensamentos distintos completamente avestruz. É tudo muito avestruz.
Interferências. Algumas invisíveis. Estou em lugares, apareço, desapareço, marco espaço, fico. Não há aviso prévio para a ação. Encontrar por aí, por acaso...é vagabundagem, pura errância. É autobiografia ficcional: rascunhos de casos, contos, relatos, desejos, invenções, polêmicas.
O retorno aos aprendizados, às lembranças do cheiro da linha, do cheiro da cera, do cheiro do ferro quente na vela, no tecido, o ruído da tesoura quando corta. Folhear as revistas de moda, a fita métrica, tirar medidas. O corte e o chulear, o bordado na cambraia, separar os fios, o movimento das mãos, a tessitura de uma roupa, as invenções. Os antigos aprendizados com meus avós, Leovigildo e Nair, os pontos com Carminha Dolabela, moldes com minha mãe, Cirene, bordados e desenhos com minhas tias Tête e Zizi.
A ironia e a graça, suportes do risco e do riso – heranças de meu pai, Betinho. A comicidade advém do olhar disponível, entregue à brincadeira, à ironia, ao vexame, ao jogo e à piada. Rir de si mesmo é o início desse exercício de dar outra graça àquilo que já está, àquilo que já é.
Um bordado se identifica pelo avesso. O avesso deve estar muito bem feito. O avesso é também o rascunho. Agora é AVEs truz, a vez do que trago comigo, do que me faz ser rascunho todo dia. Tal Vez seja mesmo um tempo de olhar o mundo por uma perspectiva generosa. Se há retrô, é o retrós, no aves ou no truz é um resgate do corte, do limite, pelas bordas, do rascunho ser o avesso e o percurso do traço o aprendizado... assim é e será rascunho da vida que se vive dia a dia... que vou fazendo avestruz.... é tudo muito avestruz...tudo fica muito avestruz; acho que é assim. Nesse livro-objeto toda página tem seu avesso.
É no rascunho que me faço viva.
É no avesso que você me encontra.
paola rettore
BH, 2012
Todos os esforços foram feitos no sentido de encontrar os detentores das imagens e obter autorização, caso alguém se reconheça neste foto/vídeo, gentileza entrar em contato com Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.